sábado, 26 de outubro de 2019

JORNADA


Eu preciso urgente voltar a ter paz em meu coração e alegria nos lábios. Só eu sei o quanto a jornada está sendo difícil. Um abraço até das pessoas que são essenciais para mim, tem me faltado neste momento conturbado de minha vida. 
Só encontrei este meio de desabafar. Mas ainda assim é um desabafo contido, pois nem posso em muitos detalhes do que me ocorrem posso relatar. 
Por horas me sinto ao mesmo tempo um José que foi vendido pelos irmãos e sofreu injúrias, calúnias e acusações. Até um simples "te amo" faria muito efeito, mas até esta ação em forma de falas ou abraços ou presença física e gestos, tem me faltado. 
Uma vez, sendo entrevistado, me perguntaram como eu queria ser lembrado como um escritor (ocasião, estava fazendo lançamento de meu livro), eu disse que queria ser lembrado como "amigo de sempre"... Não sabia eu que este amigo só foi amigo para as pessoas quando era em algum momento, de interesse da outrem. O de sempre só mostra através da minha necessidade, que estes amigos não os conto nem na palma de uma mão. Até aqueles que eu poderia contar com os dedos de uma mão, em algum momento da vida, estavam o jogo do interesse, onde eu tinha mais a dar do que a receber. Não que isso seja errado ou ruim, mas na prática, na necessidade onde ficaram a reciprocidade? 
É estranho o mundo de hoje, as pessoas não se importam com os sentimentos, ou a necessidade do ser. Não olhamos o coração, do quão grande é este coração. Que num simples gesto já mudaria toda a estrutura da alma da outra pessoa. Será pedir muito que neste mundo atordoado, você abrace e diga algo suficiente para alavancar com ânimo a pessoa ao seu redor? 
Mas minhas palavras há uma mistura da primeira e segunda e terceira pessoa, pra falar de minhas necessidades, das suas e das outras pessoas no geral. Um abraço seria algo assim tão anormal? Mas um abraço real e verdadeiro. 
Já reparou como nos importamos com a queimada da Amazônia, com o óleo nas praias do nordeste (não que seja errado), com os políticos de estimação (sim, isso aí é errado), mas aquela pessoa que está do seu lado, seu familiar ou amigo, somos com indiferença, a não ser quando há o jogo do interesse. Somos capazes de fazer e mover mundos e fundos para comprar a camisa do nosso time, ou até cruzar o país em viagem (passeio ou negócio), mas não somos capazes de atravessar de um cômodo da casa a outro para falar um "te amo" ou dar um abraço. Somos capazes de termos  um ataque de fúria para defender tanta coisa efêmera e esdrúxula, mas não somos capazes de quebrar uma barreira imaginaria da indiferença com a pessoa que está aí do nosso lado. 
Somos capazes de morrer pelo que temos, mas ignoramos com aquilo que somos. Ou passamos a chorar diante de um caixão.
Quantas pessoas, famílias, conhecidos têm sido avassalados pela depressão. E "Enes" situações têm causado a destruição de vidas, mas pior que tais situações é a indiferença, a ingratidão, que lançamos. Achamos que só nós temos os problemas, a pessoa do lado não. Só nós temos "dias maus" e as pessoas ao redor tem por obrigação compreender, entender e se esforçar para dar o melhor e o máximo de si próprio. 
A vida é uma ajuda mútua. O relacionamento de pessoas é uma aprendizagem de vidas que diante de suas diferenças trabalhem com elas para andarem de mãos dadas. 
Já olhou como a palavra perdão, assim como o amor, ficou banalizada? É falei de mim nas entrelinhas, mas acredito que falei de muita gente também. Muitas vezes somos "ente uno", únicos do universo, literalmente. Pois podemos ter a casa cheia. Andarmos em lugares cheios de gente. Convivemos com muita gente, mas sempre vamos nos considerar sozinhos, incompletos, vazios, solitários.